Bolinhas.

humanos
como bilhões de corpos
agregação de bilhões de células
conjuntos de bilhões de moléculas
agrupamentos de milhões de átomos
aglomeração de milhões de partículas subatómicas.

Tudo isso se mexendo,
singularmente, em grupos
de baixo para cima
e de cima para baixo
em um jogo de atração e repulsão
de inclusões e exclusões
de encaixes e desencaixes
de aceitação ou rejeição
em um ábaco fractal
em perpétua elaboração
aonde uma aritmetica desconhecida
calcula quando vai dar
amor ou indiferença
felicidade ou sofrimento
êxito ou fracasso
vida ou morte.

Conservas em Vidro.

nos campos iluminados por teus olhos
eu coletei policromáticas verduras,

cortando-as com as razões que eu desconheço
aferventando-as e salgando-as no desejo de ti
secando-as enfim aos teus silêncios,

afogando-as no ouro liquido de uma certeza
as amontoei na torre encantada
de um frasco de vidro
que forte o sono delas protegerá
e que sádico seus corpos coloridos
como iscas mostrará
para um tempo tanto impiedoso quanto estúpido
e que em vão tentará devorá-las
quebrando os dentes dos dias que virão.

É assim que os meus poemas
chegarão aos teus invernos
quando tu, cercada pelas frias névoas do oblívio
ainda poderá abrir e acender
a riqueza dos dias que se foram
e a ingenuidade operosa
das minhas mãos.

Sem Você.

Sem você ando confuso
como a tela de um televisor sem sincronização
não consigo me encontrar
talvez a minha consciência ficou aí
caída e escondida entre as almofadas do seu sofá
como un impudico controle remoto
quando se come uma pipoca salpicada com beijos.

Mármore de Carrara.

nenhuma tenra e caduca matéria
fácil a se escrever
fácil a se apagar,
o recado de um amor perpétuo
só poderia ser encarnado
no significado indecifrável
de eternos rabiscos
correndo e alimentando, como veias
o corpo duro, claro e imutável
do seu coração de pedra.

Carne.

o fogo propulsor de mil dias
voluptuoso para ti se oferece
como um macio rubim
adornando as mãos pálidas
de um eterno silêncio.

Svaennderrão.

Silvestre Vaga-lume
Adeja Errante
Notívago Nômade
Dançando Esplêndido
Reluzente Refúgio
Ardendo Oxitocina.

Triturador de Papéis.

recolherei os papéis,
aonde seus medos se enraizam
como sombras de arvores sem folhas
na pálida capa de um campo nevado,
aonde seus medos se agarram
como parasitas no corpo fino
de fantasmas emaciados,
aonde seus medos se mostram
como tatuagens na pele clara
de um demónio albino,
e com minhas unhas de gato preto
os triturarei nos confetes
que reluzentes cairão
como lágrimas de libertação
no carnaval que ainda aguarda
o desfile do seu sorriso.